quinta-feira, 4 de março de 2010

O universo, o multiverso e o multimultiverso

Por Domingos Sávio de Lima Soares

Imagem: telescópio Kepler





Quando, em 1917, o físico alemão Albert Einstein (1879-1955) propôs o seu modelo do universo, baseado na Teoria da Relatividade Geral, de sua autoria, ele não poderia imaginar a que ponto chegaríamos no século XXI! De fato, reina nos tempos atuais uma grande incerteza quanto à uma teoria satisfatória para a descrição do universo.




Albert Einstein, o criador da Teoria da Relatividade Geral que, entre outras aplicações, é a base para vários modelos da cosmologia moderna

Basicamente, existem três grandes famílias de teorias cosmológicas:

(1) uma família do tipo evolucionária, representada atualmente pela teoria do Big Bang, ou, em bom português, "teoria do Estrondão". Esta teoria é bastante popular, tanto nos meios científicos quanto na mídia em geral. Neste tipo de família, o universo teve um início. Ele surgiu há aproximadamente 14 bilhões de anos, no caso da teoria atual do Estrondão. Daí ser esta uma família do tipo "evolucionária"; (2) uma família do tipo "estado estacionário", na qual o universo não teve um começo, e nem terá um fim; (3) uma teoria do tipo oscilante, na qual o universo passa por fases de expansão e contração cósmicas, não tendo, por isto, uma idade ou um início. O universo está atualmente numa fase de expansão, à qual se seguirá uma fase de contração, e em seguida nova fase de expansão, e assim tem sido e será para sempre.

Segundo os cosmólogos e astrofísicos Jayant Narlikar -- indiano -- e Geoffrey Burbidge -- americano -- nenhuma destas famílias de teorias cosmológicas é capaz de explicar satisfatoriamente o universo, utilizando-se as premissas e teorias científicas conhecidas.

Por outro lado, qualquer uma delas consegue descrever o universo, mas para isto é necessário que se façam suposições teóricas que vão além do que é conhecido atualmente. Esta afirmação está na página 274 do livro de autoria conjunta destes cientistas intitulado "Facts and Speculations in Cosmology", disponível somente em inglês, mas que merece ser lido por aqueles que pretendem ter uma idéia mais lúcida sobre o estado atual da cosmologia moderna.

Quer dizer, não sabemos ao certo onde estamos, muito menos para onde vamos! Mas não devemos nos preocupar e podemos dormir tranqüilos. Esta é a grande beleza desta empreitada humana denominada genericamente de "ciência". Os cosmólogos continuam sua busca.

E as coisas não param na tríplice dúvida descrita acima! Já existe uma corrente científica, que corre por várias frentes teóricas, que pleiteia a possibilidade da existência do chamado "multiverso". Ou seja, a possibilidade da existência de mais de um universo. A sua premissa fundamental: nós habitamos um dos universos possíveis!

O astrônomo inglês Martim Rees sugere que chamemos ao nosso prosaico "universo" de "metagaláxia", e que o termo universo seja aplicado ao que denominamos acima de multiverso. Mas ele não é original nesta sugestão. Já em 1930, logo após a descoberta das galáxias na década de 1920, por Edwin Hubble (1889-1953), o astrônomo sueco Erik Holmberg (1908-2000) começou a investigar as aglomerações das galáxias, em seu trabalho de doutoramento. E em 1937 concluiu a sua tese, intitulada "Um estudo de galáxias duplas e múltiplas". E ele já denominava de "metagaláxia" a este conjunto de galáxias e aglomerados de galáxias. A diferença é que Holmberg não suspeitava ainda da necessidade conceitual que levou Martin Rees a utilizar o termo que ele usara para representar a coleção de todas as galáxias que haviam fora da Via Láctea.

Voltemos aos universos possíveis, ao multiverso (o conjunto de universos ou metagaláxias, como queiramos). A coisa ainda não para por aí. Já se discute a possibilidade teórica da existência do "multimultiverso", a coleção possível de multiversos! !! Por isso repito: não devemos nos preocupar com a nossa ignorância atual sobre o universo. A coisa é bem pior do que imaginamos! Novamente: a beleza está aí, na grandeza da ignorância...

Como escolher entre os vários universos teóricos aquele que é o mais adequado para representar o nosso universo real? De maneira geral, utilizamos o chamado "princípio antrópico", para fazer esta escolha. O princípio antrópico seleciona, por meio das leis físicas conhecidas, qual é o universo que possibilita a existência da vida, como a conhecemos. É claro que os vários universos coexistem com as suas leis próprias, as suas constantes físicas específicas, e com o seu princípio "tipo-antrópico" apropriado -- no caso de universos habitados por seres vivos, inteligentes ou não.

Mas, vamos parar por aqui. Já fomos longe demais...

Autor: Domingos Sávio de Lima Soares

Fonte: Uai, link: http://www.uai.com.br/htmls/app/noticia173/2010/02/02/noticia_tecnologia,i=146293/O+UNIVERSO+O+MULTIVERSO+E+O+MULTIMULTIVERSO.shtml

Grande abraço;

Paulo R. Poian.CBPDV

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